segunda-feira, 24 de outubro de 2016

SENHOR WILSON


(CLIQUE NA SETA PARA OUVIR ENQUANTO LÊ)

(Naruto - "Sadness and Sorrow" - Violin -
https://www.youtube.com/watch?v=XkRU2g4NtaE)


     Não podendo resistir fechou os olhos. Cansou de olhar pela janela uma rua que já não via. Cansou de perceber pelo portão o movimento que já não lhe interessava. Cansou de esperar quem não mais poderia estar consigo.

     Cansou. 

     Cansou de ficar sentado, a manhã vazia, a tarde vazia, a noite vazia. No silêncio da casa, seu olhar apagado continha a história de um tempo que passou, que acabou, que ficou esquecido.


(Sr. Wilson - fonte: Eliana de Andrade, no facebook)

     Percorria toda a cidade a passos largos segurando sua caixinha metálica com seringas e agulhas para remediar seus doentes; visitava-os, levava a eles ânimo e esperança. Em sua farmácia, por anos, recebeu-me para a minha benzetacil mensal; para o café da tarde subia em um salto os três degraus que davam acesso à casa de minha avó - onde chegava com pressa e alegria. Guardava com carinho um exemplar de uma edição antiga e luxuosa da "Divina Comédia" que lhe havia sido presenteada por um tio meu; dela, gostava de comentar ironicamente passagens do inferno e do paraíso.

     Foi uma entidade!

     Acompanhei-o de longe e também senti suas perdas ao longo do tempo. Fiquei triste em virtude delas. Hoje despediu-se; seu tempo se consumou; acabou.

     Descanse em paz.

quinta-feira, 6 de outubro de 2016

TEMPO FELIZ


(CLIQUE NA SETA PARA OUVIR DURANTE A LEITURA)
(Baden Powell -"Tempo Feliz" - de Vinícius e Baden)

Tempo Feliz
(Vinicius de Moraes, Baden Powell )

Feliz o tempo que passou, passou
Tempo tão cheio de recordações
Tantas canções ele deixou, deixou
Trazendo paz a tantos corações

Que sons mais lindos tinha pelo ar
Que alegria de viver
Ah, meu amor, que tristeza me dá
Vendo o dia querendo amanhecer
E ninguém cantar

Mas, meu bem
Deixa estar, tempo vai
Tempo vem
E quando um dia esse tempo voltar
Eu nem quero pensar no que vai ser
Até o sol raiar


(Foto: arq. pessoal)


A cidade: pequena.
A rua: arborizada.
Os vizinhos: amigos.
O portão: aberto. 
O local: minha casa.
Os cômodos: a cozinha e a copa.

Era seis de outubro.

A Maria Aparecida e o Luiz Augusto,
A Ivete, a Rita, a Dorama, o Zé Roberto, o Tim, o Zé...
O olhar da Silvinha,
A expressão do Mário Antônio,
A mão protetora da Madalena no peito do Chico,
O sorriso da minha irmã pelo seu aniversário.

Bolo, balas, doces, salgados e refrigerantes.
Da casa, todas as luzes acesas.
A alegria das faces amigas 
ficaram eternizadas na foto...
...na foto que reteve em branco e preto 
um momento passado que não volta mais.

Era seis de outubro.